domingo, 3 de abril de 2011

Sem dar nome aos bois





De volta à rotina retomei minhas refeições nos lugares que já elegí como meus prediletos. Leia-se: boa comida, prêço justo e ambiente amigável. Detesto ir a restaurantes onde sua relação com os atendentes é burocrática o que, claro, se repete com sua relação com cozinha: indiferente. Devido a esta situação prefiro ir almoçar em lugares onde a predomina o inverso deste raciocínio, e é o caso de um restaurante que frequento a muito tempo, desde que era uma portinha aberta para a rua (hoje ocupa um largo ambiente) e que me segura pela boca e estômago.
Situado na parte low da principal rua da cidade onde trabalho, é odiado por 9 entre 10 amigos que não acreditam que vou lá comer, já que possuem um território urbano em suas cabeçs onde a relação qualidade é diretamente ligada a enderêço. Balela.
O lugar que cito - e que ocultarei o nome - é amplo e bem apresentado, com limpeza absoluta, além de decoração única: reproduções de Van Gogh ornam com categoria as paredes confirmando Benjamin e sua "obra de arte na época da reprodutibilidade técnica".
Um balcão de entrada nos aguarda com petiscos populares e o pastel é imbatível: massa encorpada e recheio temperado na medida. A comida fica nos fundos, à vista de freguês, e oferece o trivial da comida popular, porém feito de modo cuidadoso: a rabada, a feijoada, o bife à milanesa, o frango frito (divino!) e a batata frita (esta de fazer o McDonalds corar de vergonha) se alternam como o "prato do dia" e fazem a alegria dos carregadores, dos ferroviários, dos pedreiros, dos camelôs, dos populares e também dos professores universitários que recorrem ao lugar no seu dia-a-dia. E é só felicidade.
O atendimento é entre o eficiente e o folclórico, já que fica à cargo de membros da família proprietária que fazem o que podem da maneira que querem, o que imprime ao lugar uma atmosfera de casa da gente.
Algumas placas fixadas nas paredes mostram o espírito da casa: "É proibido dividir prato", "Mais de um pedaço de carne será acrescido de x reais", "Marmitex que não fechar será cobrado x reais a mais", e por aí vai. Isto resume o espírito popular e caseiro do lugar. Risível e repleto de uma felicidade quotidiana.
Não só gosto deste folclore todo como conseguí ficar amigo da família proprietária da casa. Pena que o excesso de cuidado com as suas heranças familiares impeça que meus amigos acreditem em mim e não vão lá comigo. Com isto, continuo comendo sozinho, o que justifica o nome deste blog.
Ah, tem uma cachaça lá que abre as portas do paraíso...he...he...

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