domingo, 30 de janeiro de 2011

Valrhona no Brasil




Guardei para todo o sempre a latinha de Valrhona que comprei em New York (vide post abaixo) na crença que teria sido uma oportunidade única de comer estas maravilhas. Andando pelo shopping Iguatemi, em São Paulo, dei de cara com uma "ilha" no meio dos amplos corredores do prédio onde eram vendidos os famosos chocolates. Parei meio incrédulo diante da imensa variedade de ítens da marca até ser interpelido por uma vendedora que me perguntou se eu conhecia o produto. Meu "sim" foi tão efusivo que ela virou para as demais atendentes e para o gerente e disse: "Gente, ele conhece o Valrhona!!!". Se ela ficou feliz com isto, eu fiquei mais ainda por ter novamente a oportunidade de provar estas delícias. Comprei logo uma caixa de degustação com diferentes porcentagens de cacau feitos com material oriundo de regiões do planeta onde se produz o melhor do gênero. Saí feliz não só pela compra mas por saber que seria aberta na Oscar Freire uma loja definitiva onde outros produtos seriam comercializados. Já em casa faço questão de, em ocasiões especiais, fazer um tour pelos tabletinhos que desmacham só com o calor da boca e inundam as minhas papilas com uma untuosidade única, além de trazer à tona lembranças de uma tarde no Central Park onde as tive como companhia. Nas fotos a latinha do Zabar's, além da bolsa e da caixa de degustação comprada na Paulicéia.

Zabar's






Tirei um dia em NY para andar, mas não a esmo: meu objetivo era subir a Broadway até chegar na Zabar's, delicatessen famosa localizada na parte de cima da extensa avenida que corta Manhattan. Foi uma caminhada providencial pois cheguei lá esfomeado e não teria pouso melhor do que a casa de comida que é referência no mundo todo. Lá me lembrei da cena do filme You've Got Mail, quando Tom Hanks usa todo o seu charme para convencer a garota mal-humorada que está no caixa a aceitar o cartão de crédito de Meg Ryan, que, claro, estava na fila errada. Foi num destes caixas que passei com a minha parca compra que fiz só para ter uma sacolinha com a marca da loja para guardar como lembrança. Na verdade comprei um tubinho de pimenta jamaicana e uma latinha de chocolates Valrhona, que nunca havia comido e que conhecia a fama. Caramba, comí todo o conteúdo sentado num banco no Central Park, perto do quase-monumento a John Lennon, imbuído do prazer de degustar aquela maravilha e de saber que tinha sido fisgado por esta nova paixão chocólatra. Não sei se o termo está devidamente correto, mas os chocolates me perseguiram até eu achar em São Paulo uma loja da marca, mas este é outro assunto.

Balducci's





Trabalhei por um bom tempo na secretaria de cultura de uma prefeitura onde havia um motorista chamado Balducci, que sempre me fazia lembrar da famosa casa que há em New York. Tenho minhas dúvidas se ela ainda existe pois alguns sites que entrei falam que ela se despediu da cidade, sem citar para onde foi. Well, não deve ter sido extinta, primeiro porque era única no universo dos delírios gastronômicos, e, segundo, porque acho que NY não viveria sem ela. Localizada nas imediações do Village, a fachada não diz muito sobre o que existe lá dentro, pois ao entrarmos a surpresa é grande: é a própria Cocagne que se abre aos nossos olhos.
Apertada num espaço exíguo - ou seria exíguo em função da imensa oferta de ítens gastronômicos? - a casa é um universo paralelo, onde reina a comida do mundo. Quer um caviar beluga? Tem lá. Quer um marisco antártico? Também tem lá. Quer frutas exóticas de ilhas perdidas do Pacífico Sul? Olha elas bem alí na frente. E por aí vai. Como alguém já havia dito, o Balducci's parece a Casa Santa Luzia - paraíso paulista da melhor comida no Brasil - tomou um ácido. Me lembro que o teto da loja parecia uma chuva de embutidos, de queijos, de frutas e outras coisas que só o paladar decifraria, que caíam sobre minha cabeça como uma cornucópia de prazeres. Eram tantos ítens que não consegui comprar nada por ter perdido completamente o senso de escolha: eu queria TUDO! Se a casa realmente fechou eu posso me considerar um felizardo de a ter conhecido no seu auge.

Um dia, na Big Apple...






Hoje me lembrei de uma tarefa a que me propus quando estive em New York, que foi a de fazer um "arrastão" nas delis locais para ver se dava para comer (ou comprar) algumas coisas que não seriam comuns por estas bandas abaixo do Equador. A primeira que visitei foi o Dean & DeLuca, pois era perto do hotel onde me hospedei. Foi quase uma iniciação mágica pois a loja era maravilhosa e as comidas eram delicias feitas por algum gênio do paladar. Foi inevitável não me lembrar da cena final de Hannibal, filme de Ridley Scott, que deu continuidade ao Silêncio dos Inocentes, quando Lecter, já num avião fugindo tranquilamente da polícia, faz um lanche mórbido acompanhado de ítens que constam numa embalagem "to go" da referida delicatessen. O menino japonês para quem ele oferece um naco daquilo que come mal sabe o que perdeu. Só sei que a rede novaiorquina é um paraíso gastronômico que faz juz a fama que possui. Saí de lá satisfeito com o maravilhoso patê de campagne que degustei numa bela fatia de pão italiano, acompanhado de um Boujolais. Ah, comprei também uma bolsa com guloseimas para comer no hotel e um avental para me acompanhar na cozinha de casa quando incorporo um "chef". Fino perde!!!

Outro blog


Oi amigos.
Tenho um outro blog - www.afonsopost.blospot,com - onde o que prevalece são posts de cultura em geral. Às vezes torturo meus leitores com depoimentos sobre o bem viver que experimento em viagens, dia-a-dia e etc., daí ter decidido fazer este outro link para poder exercer minhas vivências nas mesas públicas e particulares que freqüento. Adoro cozinhar e acredito que dividir isto com vocês só pode dar em coisa boa. Fui!!!

Domingão de verão


Faz um calôr do cão. Sem opção viável para quem mora numa cidadezinha de 40 mil habitantes em Minas Gerais, a solução é um bom repasto, daqueles que redimem a vida e torna a programação de domingo (sim ,gente, é domingo...) da TV naquilo que ela realmente é: um prato indigesto. Qual a solução? Ir para a cozinha cometer alguma coisa que faça a vida ter sentido. Olho minha geladeira (freezer incluso) e percebo que é de fazer São Francisco de Assis ruborizar, ou seja, um atestado de pobreza inquestionável.Mas nada que não possa ser suplantado pela criatividade. E vamos lá juntos, eu e o meu séquito de solitários dominicais.
Antes de mais nada ordenei as possibilidades: meio peito de frango temperado com sal e alho, uma cebola chorosa perdida num cantinho, um restolho de manga aden cortada em fatias, manteiga, meia chícara de arroz arbório e temperos diversos como açafrão da terra, noz moscada e canela. Tudo coroado com um espumante argentino que clama por refrescar o calorão deste verão cruel.
Manteiga na panela (sejam generosos e esqueçam o que os cardiologistas dizem: é tudo mentira!), joguem aí o frango temperado picado em cubos. Dourou? Coloque a cebola em pedaços até que fiquem transparentes. Ficou? Jogue um pouco de água para não desperdiçar a saborosa grudação que aconteceu no fundo da panela ,ou então faça à parte um caldo usando a carcaça e jogue lá (aqueles cubinhos de caldo de galinha com azeite também funcionam). Feito isto coloque o arroz arbório e deixe dar uma primeira cozinhada. Antes da segunda colocada do caldo jogue a manga em cubinhos e vá dosando o restante do líquido. Nesta hora já pode colocar o açafrão, a canela e a noz moscada (pouquinho, gente) já que o que deve prevalecer é o açafrão. Deixe cozinhar em fogo baixo colocando água - ou caldo - na medida que o arroz pedir. Lembre-se, deve ficar al dente. Tá pronto? Coloque num prato lindo, de preferência grandão, e vá degustando aos poucos, com elegância (nada de ir com fome ao pote...) e aproveite e beba o restante daquele espumante geladíssimo que já estava te fazendo companhia antes mesmo de iniciar o ato de cozinhar. Eu fiz isto com um belo e acessível espumante argentino Alamos que foi um alento antártico nas altas temperaturas deste domingo saariano. No fim das contas foi um prazer único que, confesso, dividí com Ted Boy Marino e Kathia Cilene, o casal de gatos que mora na minha humilde casinha. Como é fácil ser feliz.

Oi gente!


Pois é, decidí fazer este blog por conta de um fato cotidiano, ou seja, eu como sozinho. Mas não vejo isto como uma danação ou uma tarefa inglória, tipo um atestado de abandono ou tristeza extrema. Muito pelo contrário, o motivo que me fez iniciar estes posts é o fato de que muitas pessoas - mas muitas mesmo - comem ou cozinham para si mesmas sem que isto seja um problema existencial ou filosófico. A ideia é mostrar a alegria que permeia a construção cotidiana da comida, com relatos particulares que vão desde a descoberta de restaurantes - onde o usufruto solitário da comida é transformador -, até a divulgação de receitas redentoras (e faceis) que podem transformar aquele domingo egóico num prazer amplificador da solidariedade com toda a humanidade. Duvida? Então me siga e coloque este blog como seu favorito. Alô homens - e mulheres - solitários por opção: sua hora chegou...rs...