terça-feira, 28 de junho de 2011

Galinha da Angola com legumes


Segue esta sugestão de preparo desta ave tão saborosa:
Pega-se uma galinha da angola já limpa e devidamente lavada e seca com uma toalha de papel. Corta-se pelas juntas e deixa-se descansar numa travessa junto com os miúdos se estes forem do gosto dos comensais.
Pica-se em pedacinhos pequenos - cubinhos - cenouras, abobrinhas, vagens, couve-flor e outros semelhantes do agrado do cozinheiro. Também cebola e alho podem ser picados como se fizer necessário em quantidades coerentes com a receita. Estes ingredientes devem ser acrescidos à travessa onde repousa a galinha, junto com sal e pimenta a gosto,fazendo uma mistura para temperar a carne por pelo menos 40 minutos antes de se iniciar o cozimento. Se quiser já colocar salsa, cebolinha e manjericão frescos, pode, ou então deixe para a finalização.
Passado o tempo de perfumaria, numa panela grande joga-se partes iguais de azeite e óleo na medida certa para dar uma dourada nas partes galinha, o que deve ser feito com paciência, já que a carne desta ave pede tempo certo para não endurecer pelo excesso de cozimento. Separe cada pedacinho da galinha dos legumes de tempero e jogue-os na panela, deixando os vegetais separados para depois.
Feito o douramento, junta-se à carne os legumes escolhidos e a cebola e o alho, mexendo para fazer uma alternância dos componentes para não queimarem no fundo da panela. Tampe e vá olhando de vez em vez.
Assim que notar que já foi solto um líquido no cozimento, junte um pouquinho de água, corrija o sal e a pimenta e vá provando delicadamente a carne para ver se não passa do ponto de maciez perfeita. A quantidade de água a ser colocada gerará mais ou menos caldo. Eu prefiro com muito caldo pois este fica deliciosamente delicado.
Conferido que está mesmo pronta a carne, ao gosto do freguês, é só retirar da panela, colocar numa linda travessa e decorar com um buquê de salsinhas e flores de majericão. Comer com os olhos é fundamental.
Na mesa a galinha vai fazer um bom par com um arroz branquinho e soltinho e/ou uma farofa feita na manteiga, ambos pensados para captar no prato o caldinho que ficará no fundo da travessa. Ah, um azeite maravilhoso vai bem também.
Se a bebida for um vinho, lembre dos encorpados pois farão uma excelente combinação com a carne intensa desta maravilhosa ave africana.
É isto. Uma delícia.

Tô fraco! Tô fraco!


Fui curtir parte do feriadão de Corpus Christi no sítio de um amigo. Fui lá ciente que o convite também era uma convocação para que eu dedicasse parte da estadia na cozinha da casa, fazendo a alegria deles que poderiam se esbaldar pelo campo, pomar e redes sem se preocupar com a comida. Aceitei a função pois são amigos fiéis e merecem tal dedicação e, no caso, eu não comeria sozinho, mote deste blog.
O dia estava absurdamente ensolarado e o céu era de um azul pleno, pedindo um amarelo cacho de acácias para se mostrar mais azul ainda. Sem acácias florindo, os ipês fizeram as vezes de causar o contrastante impacto visual com a sua floração dizendo: "Como é bom encantar os humanos".
Mas o assunto aqui é comida e, chegando no local, a visão que tive de um fogão à lenha me animou bastante: cozinhar num é privilégio raro para habitantes urbanos. E pus-me a pensar: o que cozinhar para este pessoal? Logo uma visita à horta tornou-se fundamental, já que o que se planta no sitio é 100% orgânico, o dernier cri da culinária nos dias de hoje. Lá fui eu à caça de inspiração.
Porém, andando até a plantação numa aprazível trilha no campo, meus ouvidos foram atingidos por um canto - ou seria um grito? - de "Tô fraco! Tô fraco!". Fez-se a luz na minha procura ao cardápio que poderia surpreender os comensais: farei uma galinha da angola.
E lá estavam elas, desfilando soltas pelo mato nos presenteando com suas belezas africanas. Esta galinha não deve ser criada confinada pois seu território é aquele das andarilhas, daí ter uma alimentação tirada da terra e das plantas, o que a torna muito "orgânica" e portadora de uma carne saborosa.
Resolvido o drama do menu, troquei ideia com a mulher do caseiro a convocando para o pior da ocasião: o sacrifício e preparo da penosa. Neste campo não tenho muita prática e derramamento de sangue não é o meu forte (os vegetarianos adorarão esta frase) e a senhorinha foi gentil aceitando a tarefa e, tempo depois, levou a galinha já morta e limpa de suas penugens, deitadinha numa panela de pedra, pronta para o preparo. Suspirei aliviado e lá fui eu fazer o prato que surpreenderia os amigos que, até na hora de se sentarem à mesa, não souberam o que seria servido.
O cheiro despendido do cozimento encheu a casa de um perfume animador e o visual do prato ficou atraente. Ninguém desconfiou que era uma galinha da angola, já que cozida sua aparência é de um frango caipira, mas o degustar da forte carne de caça (termo meu) foi aprovado e fez um belo casamento com um vinho (também orgânico) que levei. Como os rostos ficaram iluminados à mesa.
Depois do restauro de cada um, as redes acolheram os convidados que se deixaram levar pelo barulhinho do córrego, o farfalhar das árvores e o canto discreto dos passarinhos e dormiram o sono dos justos, ou dos satisfeitos.
Já eu fiquei olhando a paisagem sentado num balanço na varanda e lá longe, bem baixinho, pude ouvir o grito das parceiras da tarde com o seu "Tô fraco! Tô fraco!" feliz por estarem soltas no mundo e ainda longe de serem as preferidas dos cardápios de muita gente.
Segue no outro post a receita do prato.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Na praça






Estive em SP de novo para uma semana de atividades que incluiu o lançamento de um livro de história da moda (de autoria de um grande amigo) e uma visita com meus alunos da Pós-graduação em estudos Afro-Brasileiros ao museu homônimo no Parque Ibirapuera. Apesar de uma agenda apertada me aguardar, tive tempo para dar as visitadas de praxe aos restaurantes que proliferam na capital paulista. A questão sempre é a mesma: repetir as visitas aos lugares que me impressionaram pela qualidade ou visitar novos estabelecimentos? Na dúvida fiquei com as duas opções.
Eu tinha lido numa resenha de jornal que a região central da cidade tinha um bom lugar para se comer, o restaurante Piazza 36. Acreditei na dica e fui lá ver como a coisa funcionava.
O lugar é na Praça da República, daí o nome e o número que o identifica, mas o proprietário soube jogar com a localização, já que o prédio é interessantíssimo com portas e janelas que se abrem para a lateral do Caetano de Campos e toda sua imponência. Ponto pra eles.
A programação visual do ambiente é muito bem pensada pois joga com o design retrô original da casa mas o aproveita dando um upgrade nos detalhes, o recolocando numa jogada contemporânea. Outro ponto para eles.
O esquema do almoço é um buffet aberto com uma bela mesa de boas opções de pratos frios que inclui um grelhado com acompanhamento quente. Nada mau. Aliás achei interessante ter uma oferta de pratos com uma quantidade que não se mostra escassa nem com aquela fartura excessiva que desnoteia o comensal. Dá para se comer bem sem a ansiedade de querer provar de tudo um pouco. Outro ponto marcado.
Eu me servi bem no buffet e depois comi um cordeiro grelhado com risoto de espinafre, tomate seco e mussarela. Foi o suficiente. A porção era exata para saciar a fome e não atrapalhar o retorno ao trabalho. Ah, existe uma carta de vinhos simpática com oferta em taças, o que ajuda bem no acompanhamentoe não obriga a se exceder nas doses.
Terminado o almoço (não comi sobremesa...) um expresso finalizou o repasto e a conta veio honesta, ou seja, coerente com a qualidade de tudo. Compreendo que esta parte da cidade, o Centrão, é terreno de casas que atendem de modo objetivo a clientela de executivos, comeciantes, etc. normalmente com ofertas neste formato de self service, mas a simpática casa tem seu diferencial e merece ser visitada sem pretensão.