sábado, 5 de fevereiro de 2011

Tristeza, por favor vá embora...






Por minhas andanças no centro do Rio é impossível não reviver situações de quando ía lá criança, junto com meu pai. Se havia um lugar onde ele tinha grande prazer em ir era no restaurante Penafiel, na esquina da N. Sr. dos Passos com a av. Passos. Eu continuei frequentando o local devido à sua deliciosa culinária portuguesa, que era servida em diferentes pratos que ficavam em grandes panelas no fundo da casa onde a gente se servia com fartura familiar. Que decisão difícil era a escolha, meu Deus, tantas eram as maravilhas.
A casa, fundada em 1913, resistiu bem ao tempo graças à sua comida, pela freguesia fiel e também (e acima de tudo) por sua atenciosa dedicação a quem lá ía comer. Com uma decoração que sofreu poucas interferências,- e que por isto mesmo ficou clássica -, estar lá era um retorno no tempo que só dava alegrias. Me lembro em criança de ficar olhando encantado a vitrine onde eram feitos arranjos com os peixes e frutos do mar, bem ao estilo das casas portuguesas, e de como meu pai brincava comigo dizendo que o polvo e seus tentáculos estava vivo.
Levei um amigo francês para comer lá certa vez e ele não se cansava de fotografar tudo, adorando os lustres originais que, hoje, são reconhecidas peças de design originalmente brasileiro. Como eu não meço esforços para resguardar minhas afetividades, pedí ao proprietário, depois de um lauto almoço, que me vendesse um prato com a marca da casa gravada, só para lembrança. Ele disse que sim, foi na cozinha e trouxe um embrulhado num papel marron e me disse: "É presente da casa". Ao abrí-lo em Minas ví que havia um cartão onde ele e os funcionários me desejavam felicidades. Caraca!!! Um troféu!
Pouco tempo atrás fui até lá e fui assaltado por uma tristeza imensa: o Penafiel tinha fechado. Sentí aquelas dores íntimas que só a gente reconhece e me restou o lamentar. Hoje, no lugar do Penafiel, existe um McDonalds.

Um comentário:

  1. Burn, McDonalds, burn!

    Este post mexeu comigo. Um artista reconhece outro. Anos depois MacPhisto destrói a pobre cabana, como em Fausto. E justamente em cima dos portugueses, o país ocidental que mais no mundo recusou a abertura de novas franquias da rede de fast-food.

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