domingo, 6 de fevereiro de 2011
Somos o que comemos...
O Brasil tinha só 27 anos de descoberta quando nasceu o pintor italiano Giuseppe Arcimboldo (? 1527 — 1593 ?). Depois de uma formação e uma atuação nas artes em várias cidades da Europa, ele se tornou adepto de um movimento posteriormente intitulado Maneirismo, ou seja, um grupo de artistas que pintavam "à maneira de..." e que dava ênfase ao aspecto espiritual da arte, assunto recorrente como podemos ver nas obras de outros pintores como El Greco e Tintoretto. No entanto, estes dois artistas citados estiveram ligados à religiosidade católica e Arcimboldo não, já que, por morar naquele período em Praga, uma corte católica, a cidade tinha total independência em relação à Igreja Romana e seus monarcas eram de grande tolerância em relação a outras religiões e crenças. Ali conviviam juntos judeus, cristãos e ocultistas.
O ocultismo foi uma referência importante para Arcimboldo, como vemos em suas paisagens antropomorfas - nas quais corpos e faces humanas são sugeridos pela representação dos relevos, das árvores, das pedras, e de outras coisas de uma paisagem - e em suas séries ligadas à natureza, por exemplo, em uma das séries de estações do ano feitas para Maximiliano II: Primavera, Verão, Outono e Inverno. Nestas, o artista fez referência ao gênero do retrato, preservando a opulência do retrato cortesão, mas construiu seus personagens a partir de imagens da fauna e da flora, elementos que, no século XVII, estariam presentes no novo gênero da natureza morta. A diversidade de possibilidades de interpretação a partir das composições "estranhas" de Arcimboldo é um dos motivos que levaram, durante muito tempo, ao seu esquecimento pelos historiadores. Existe em sua obra uma identidade dual, tanto no jogo visual que proporciona - bastante explicito na obra O Cozinheiro -, como em um jogo de sentidos ocultos que ele sugere - ponto que relaciona o artista com seu antecessor, Hieronimus Bosch. O historiador Arnold Hauser fala de Arcimboldo como um "maneirista pervertido" - termo ótimo - e estabelece conexões entre ele e o movimento modernista do Surrealismo.
Assim como foi com a maioria dos artistas maneiristas, após a morte de Arcimboldo o interesse por sua obra diminuiu, chegando quase ao esquecimento, talvez pela estranheza que podem causar suas imagens. Foi apenas no século XX que este e outros maneiristas foram resgatados, recebendo a atenção e o valor que merecem.
Arcimboldo figura aqui como um artista alegórico que representa muito bem a composição física do homem como um ser onívoro, que é composto pelo que come. Achei que esta citação daria um interessante link num blog sobre comida.
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