segunda-feira, 30 de maio de 2011

Galinha gourmet




Depois de ter sido a rainha dos quintais - quando havia quintais - a galinha se viu banida ao limbo industrial das granjas e dos esteróides galináceos (isto existe?) virando até referência para a medição da economia do país, quando figura na lista de bens acessíveis às classes C e D. Porém a redenção da penosa parece surgir no horizonte no nicho da comida orgânica. Existirá uma galinha (ou frango) orgânico. Sim!
Segundo os programas rurais televisivos ela já está por aí ciscando livre em fazendas, comendo minhoca, dormindo nos puleiros e tomando banho de terra. Elas devem estar adorando, mesmo que o seu destino seja o mesmo das suas colegas menos privilegiadas da granja, ou seja, o cutelo. Mas nós, consumidores, vamos na onda já que o sacrifício da raça está tão longe dos nossos olhos que continuamos crendo que galinha é produto de geração espontânea do mundo dos supermercados.
Com a chegada desta versão politicamente correta da ave, também veio o resgate de coisas antes esquecidas pela higiene da mesa, como seus pezinhos enrugados que são tão indesejáveis no prato quanto quando aparecem nos rostos das pessoas, mulheres majoritariamente. Mas já há o movimento pró-pé de galinha.
A recuperação de receitas onde aparece o dito e suas contribuições para o sabor é fato. Não se vê mais com estranheza uma receita de canja onde o ingrediente faz parte, mesmo que sua aparência indisfarçada predomine, mas, para minimizar o impacto, é bom que se retire as unhas (conselho essencial). Se a culinária popular resgata a canja, os restaurantes sofisticados resgatam a versão chic oriunda da culinária oriental, como fez Ferrán Adriá no seu quase finado El Bulli, onde se desossa a patinha e a pele é servida frita até uma crocância popcorn, deliciando os sentidos. E paga-se muito por isto.
Como aqui sou apenas um comentarista, fica a sugestão de uma revisão de valores em relação ao aparelho locomotor destas coitadas que são parceiras da nossa fome desde muito tempo atrás.
Quanto ao pé de pato como iguaria, isto tratarei após o impacto deste post atual ser devidamente assimilado.

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